Voltando ao cotidiano!

O que é que não somos capazes de fazer pelas pessoas que amamos... o que eu não faria para ver o sorriso do meu pai numa tarde tranquila e feliz, sentindo-se repousado e calmo, o que não faria para ver o sorriso da minha mãe do lado dele, sentindo-se esperançosa pela primeira vez em vários meses. Desde que começamos essa luta o D. Miguel passava as tardes calado, afastado da gente num cantinho se escondendo detrás do jornal para evitar nos olhar no rosto e ter que assumir a perspectiva tão triste que tinha pela frente. A Dona Luzia deixava a gente pior ainda, chorando um pouquinho aqui e outro ali, como se a gente não soubesse... e nós, minha irmã e eu, engolindo a tristeza e com um sorriso de esperança sempre pronto, e à procura incansável de uma perspectiva melhor.

Depois de tanta coisa, tanto hospital, tanto médico, tanto desanimo de descobrir que os tratamentos não tinham sido tão efetivos quanto a gente esperava, agora nem da pra acreditar nesse final de semana. Esse domingo a família se reuniu, a minha mãe fez aquele cozidão gostoso, com muito vegetal, pois a alimentação do meu pai tem mudado muito! e ficamos todos sentados na mesa, batendo papo entre barulho de crianças e ouvindo as histórias do meu pai, as mesmas que a gente já sabe de cor de tanto ouvir, mas que agora ouvimos com maior prazer ainda. Meu pai até conseguiu brincar com as crianças, os dois filhos da minha irmã, fazia um tempão que ele não conseguia se mexer direito por conta do avanço da doença. Sinto-me tão grata, mas tanto mesmo, a vida do meu pai vai voltando ao normal, ele está ganhando peso, voltou a brincar com a gente, e a minha mãe recuperou a vontade de brigar com ele!!! Dou graças a Deus por um dia normal e pela oportunidade de encontrar um tratamento que devolva a minha família a alegria e o sorriso no rosto!